O Brasil é o país da diversidade. Da diversidade étnica, cultural, é plural em sua identidade: é o índio, é o afrodescendente, o imigrante, o caiçara, o caipira, o urbano, o sertanejo...Ao lado da história têm existido preconceitos, relações de discriminação e exclusão social que impedem muitos brasileiros de exercerem plenamente sua cidadania. Nesse contexto, quer na perspectiva psicológica ou na antropológica, a construção da identidade autônoma é acompanhada num movimento único, da construção da identidade dos outros. Isso implica o reconhecimento das diferenças e imediatamente a aceitação delas, construindo-se uma relação de respeito e convivência que rejeita toda forma de preconceito, discriminação e exclusão. É o que prevê a política de igualdade, a sensibilização, em primeiro momento, para se posicionar socialmente, para que isso oriente o indivíduo e o repúdio e as formas veladas ou explícitas de injustiça e desrespeito.
Contrapondo-se a isto, a tradição escravocrata, patrimonialista e autoritária no Brasil produziu lamentáveis resultados em matéria de corrupção política e social, desrespeito a ordem constitucional e legal, além de abusos de toda sorte em flagrante violação dos direitos de cidadania.
Desde muito cedo, são transmitidos padrões de comportamento diferenciados para homens e mulheres. No entanto, a adoção dos conceitos corretos de gêneros permite abandonar a explicação da natureza como responsável pelas diferenças existentes entre os comportamentos e lugares sociais ocupados por homens e mulheres. Essa diferença tem privilegiado os homens na medida em que a sociedade não tem oferecido as mesmas oportunidades a ambos, e mesmo com grandes transformações ocorridas nas últimas décadas nos costumes e valores, ainda persistem mesmo que encobertos o preconceito e a discriminação.
A história da mulher dentro da humanidade é expressa por muitas lutas e reivindicações que se iniciaram ainda na antiguidade. As Estruscas, primeiras feministas, a Deusa egípcia Isis, as mulheres romanas que puderam frequentar as escolas, as mulheres medievais que desafiaram a igreja e foram queimadas na fogueira pela inquisição, as mulheres da década de 60 e revolução feminista com o desenvolvimento da pílula anticoncepcional.
Em um século de revoluções, a mulher deixa de ser aquela figura mitológica, heroína de contos e fábulas, tanto que já governou capitanias, participou de movimentos abolicionistas, fundou cidades, guerreou, sofreu, fundou partidos políticos...Se olharmos para trás, ficaremos estarrecidos e emocionados ao vermos a profunda mudança na vida das mulheres. A mulher pela sua força e ousadia batalha pelo que deseja e hoje conquista seu lugar, transpondo obstáculos, rompendo preconceitos, fazendo sua história na sociedade. A constituição diz que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, assegura que não pode haver diferença de salários, em exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo. Entretanto, mesmo amparada por leis, mulheres continuam a sofrer discriminação das mais variadas formas, porém leis como a nº 11.340, denominada Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, vem atender a décadas de mobilização feminista para pôr fim à violência doméstica e a discriminação.
Não se pode negar, porém, que a discriminação ainda se faz evidente quando se ouve piadinhas ou expressões que se relaciona a isto ou aquilo como “coisas de mulher”, sem mencionar que até na linguagem isto se faz presente, pois é comum que tudo relacionado à mulher seja “inho” e ao homem “ão”.
Há evidências da atitude discriminatória inclusive na tentativa de valorizar as partes mais discriminadas, há o dia da mulher, mas não há o dia do homem, há dia do índio, do negro, mas não o do branco. Há cotas nas universidades para o índio, para o negro, mas não para o branco, como se todos os brancos estivessem imunes à pobreza.
Outro fator predominante quanto às mulheres é a gravidez precoce, que já não causa tanta polêmica em nossos dias, como na antiguidade. Entretanto, as mulheres se tornam mães cada vez mais jovem, fazendo com não vivam coerentemente a fase adolescente.
Cerca de 20% das crianças que nascem a cada ano no Brasil são filhas de mães adolescentes. Acontece em todas as classes sociais, mas a incidência é maior e mais grave em populações carentes. Comparando a década de 70, três vezes mais garotas com menos de 15 anos engravidam hoje em dia e a maioria não tem condições financeiras para assumir essa maternidade.
Psicólogos, médicos e pedagogos concordam que a liberação da sexualidade, a desinformação sobre o tema, a desagregação familiar, a urbanização acelerada e a influência dos meios de comunicação são os maiores responsáveis pelo número de gravidez precoce. E o homem, machista em sua tradição, muitas vezes não têm condições de assumir a responsabilidade, às vezes por não estar amadurecido e nem consciente da necessidade do uso do preservativo, deixando a criança sem o respaldo necessário e na maioria das vezes sendo criadas pelos avós. Acredito que falta aos exemplos mais esclarecimento à questão, bem como um alicerce familiar.
Outra questão quanto à diferença de gêneros, é a homossexualidade, que já foi considerada uma perversão e até uma doença.
Em meados dos anos 80, quando o vírus HIV, que provoca a AIDS, foi descoberto, houve discriminação e preconceito aos homossexuais, atribuindo-lhes a responsabilidade pela disseminação do vírus, só mais tarde, quando se constatou que a transmissão também ocorria entre heterossexuais, houve melhora na aceitação e um pequeno vínculo de solidariedade. Assim, a OMS – Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade de sua classificação como doença física ou mental.
Na sociedade atual, muito se fala em defesa dos direitos de minorias, como negros, homossexuais, etc; porém falta respeito às pessoas independente de suas preferências, e que cada um cumpra com seus deveres para com a sociedade. A democracia não é construída apenas com direitos, exige a participação ativa de todos os cidadãos.
Torna-se necessário lutar pela igualdade entre homens e mulheres, condição de cidadania e a construção de uma sociedade democrática e pluralista.
Desigualdade social e discriminação se articulam, no que se convencionou denominar “exclusão social”: impossibilidade de acesso aos bens materiais produzidos pela sociedade, e da participação na gestão coletiva do espaço público, pressupondo a democracia. Na prática, o Brasil não é uma sociedade regida por direitos, mas por privilégios. Os privilégios, por sua vez, assentam-se em discriminações e preconceitos de todo tipo: socioeconômico, étnico e cultural. Em outras palavras, dominação, exploração e exclusão interagem; a discriminação é resultado desse complexo de relações.
Mudar mentalidades, superar o preconceito e combater atitudes discriminatórias são finalidades que envolvem lidar com valores de reconhecimento e respeito mútuo, o que é tarefa para a sociedade como um todo.