Entre as cidades de Mirandópolis e Pereira Barreto se localizam as Três
Alianças, bairros formados na década de 20 durante o período da imigração
japonesa. Quem passa pela vicinal que liga os dois municípios, não imagina que
ali, entre a Primeira e Segunda Aliança,
no sítio Sato existe um grande tesouro. Trata-se de um museu, que abriga
milhares de fotos que contam a trajetória da imigração e formação dos bairros.
Além de centenas de peças antigas que ajudam a compreender o passado e sua
evolução tecnológica.
Na entrada do sítio Sato há uma abudância de árvores, flores e frutas,
como acerola, goiaba, lechia, jaca, limão, ceringuela, entre outras. Adiante,
numa casa branca, de arquitetura diferente das convencionais, e muito grande
denunciam os traços orientais, onde reside o casal Rosa e Issao Sato, donos do sítio
e organizadores do museu. Em torno da casa existem seis barracões, onde essas
relíquias são organizadas em
seções. Cada uma delas conta a história de uma época.
O senhor Sato conta que já trabalhou com diversas atividades agrícolas e
criação de gado. Hoje com 72 anos sua principal fonte de renda é extraida das
seringueiras, árvores que produzem borrachas.
O casal possui três filhos em São Paulo, mas afirma que nunca trocaria a
calmaria do campo pela vida turbulenta do grande centro. “O sítio é herança de
meu pai, nasci aqui, ajudei em todo tipo de trabalho e pretendo continuar
aqui”, afirma Sato.
Quem chega para visitar o museu não paga nada e é recebido com grande
alegria por Issao Sato, que faz questão de tomar a frente e explicar como
funciona ou funcionou cada objeto. Na entrada do primeiro barracão observa-se máquinas
de calcular (calculadoras), máquinas de escrever, telefones de vários modelos e
épocas. Em meio aos telefones o que mais chama atenção é o primeiro modelo de
aparelho celular existente no Brasil, de tamanho bastante grande, que surgiu na
década de 90, bem diferente dos atuais e com pouquíssimos recursos. “Nessa época
a gente usava celular somente para conversar. Jogos, cêmeras, gravador,
torpedo...não existia nada disso”, lamenta.
Na sequência, modelos de objetos de iluminação de todas as épocas, entre
eles: lamparinas, lampiões, faroletes, lâmpadas encandescentes e fluorescentes.
“Bem antigamente, não existia luz, então para iluminar nossa casa, as
brincadeiras de roda, eram utilizadas lamparinas, lampiões e assim
sucessivamnte”, explica sobre a evolução da iluminação.
LPs, fitas cassete, VHS, CDs, MDs, DVDs, disquetes, pendrives contam a
evolução da tecnologia no sentido de armazenamento de dados como músicas e
imagens.
Sob uma banca, bolsas usadas antigamente pelos Correios para entrega de
correspondências, diferente de hoje, cujas entregas já são feitas de motocicleta.
Mostrando um fogão de 1958, peneira, torrador de café, moinho, bule e
chaleira, Sato contou o processo de como o café chegava até a mesa no passado,
diferente dos dias atuais, onde compra-se café embalado e usa-se cafeteiras
entre outros mecanismos modernos.
Pistão, bomba de manivela e bomba elétrica também fazem parte da
história. Mostrando esses materiais, ele explica como a água chegava até as
casas outrora.
Máquina de costura, picadeira de folhagens, máquina agrícola dos anos 50
também compõe o cenário das valiosas peças.
As mais de mil fotos, mapas, listas com nomes de moradores antigos e
atuais, além de documentos com nome de fundadores ilustram o processo de
imigração e povoamento das Alianças.
“Aqui tinha muita gente, mas devido algumas dificuldades muitos foram
embora, deixando saudades e o que a gente guarda aqui são recordações das
pessoas e das épocas que não voltam mais”, disse com emoção.
A organização das diferentes peças que hoje formam o museu, começaram a
ser juntadas há 12 anos. No ano de 2000 seu Issao resolveu juntar as muitas
ferramentas que já não usava mais, devido a modernizanção e também arrecadou
ferramentas e fotos com alguns vizinhos e conhecidos. Ele afirma que na época,
não tinha ideia de como o trabalho seria reconhecido.
Várias peças já foram tiradas do sítio
para fazerem parte de uma exposição na Escola Municipal Tomika Abe, além
disso, o local recebe muitas visitas por conta do museu.
“Quando visitei o museu do sr. Isao Sato, fiquei impressionada com a
quantidade e qualidade dos documentos, fotos e objetos que ele guarda sobre a
história do Bairro Segunda Aliança. Ele se preocupou em arquivar cada detalhe
da história do bairro para passar à novas gerações. Como cidadã
mirandopolense eu me sinto orgulhosa em poder contar com um espaço para
conhecer um pouco mais de minha cidade” afirma a jornalista Fernanda Sousa.
“Tive a vontade de que todos os bairros da cidade tivessem a mesma
preocupação. As Três Alianças sempre foram para nós um motivo de
orgulho e identidade. Ter um local que reúna a história de um pedaçinho da
cidade é para nós um grande presente”, prosseguiu.
O radialista Cícero Rodrigues, afirma que ficou encantado ao conhecer o
lugar. “Achei apaixonante ver alguém que procura preservar o passado. Essa iniciativa
de deixar a memória viva de um povo que veio ao Brasil em busca de um futuro
melhor e que aqui enfrentou dificuldades, longe de sua cultura, de seu povo,
aprendendo um idioma diferente, mas acabou se firmando. Me emocionei ao ver o orgulho que ele tem ao
falar da tradição do seu povo. Ir no museu não consiste apenas em ver, mas
também em ouvir a história”, destacou.
Questionada sobre a preservação do patrimônio construido pelo descendente
da imigração, Edilene da Costa, Diretora Municipal de Cultura, relatou que o
museu tem um grande significado para o município por contar a história do
bairro Segunda Aliança, mas como se trata de um trabalho pessoal, é difícil haver
intervenção por parte do município. “O acervo é bastante diversificado e
com grande significado para a comunidade japonesa mirandopolense. Quanto
a fazer alguma coisa, podemos fazer caso senhor Sato peça alguma ajuda, mas por
ser um acervo pessoal, é bastante reservado, não nos dá muita abertura, mas
assim que ele tiver a intençao de nos passar, será muito bem vindo, mesmo que
eu não esteja mais no departamento de cultura, com certeza terão interesse em
cuidar deste acervo que é tão valioso para ele e para nós”.